Nos últimos anos, os candidatos fantasma tornaram-se cada vez mais uma realidade, principalmente no mercado português. Este fenómeno, também conhecido por ghosting - termo que provém do mundo dos relacionamentos online - remete para os candidatos que simplesmente se tornam incontactáveis a meio dos processos de recrutamento; ou que se candidatam, aparecem nas entrevistas, são aceites e depois desaparecem, sem qualquer pré-aviso.
Com a diminuição das taxas de desemprego, os candidatos, principalmente da área das Tecnologias da Informação e Comunicação, cada vez mais têm à sua disposição novas e diferentes oportunidades de emprego. Esta multiplicidade de opções com que constantemente são aliciados tem invertido as relações entre candidato e recrutador, que anteriormente detinha maior poder de decisão nos processos de recrutamento. Este fenómeno tem, ainda, alterado o comportamento dos candidatos, levando a que estes se comportem como “millennials” no Tinder.
O ghosting é um fenómeno transversal a várias indústrias e setores, afetando não só o mercado internacional, como também o nacional. Segundo o The Washington Post, este fenómeno tem tido um aumento de 10% a 20% no último ano. Já de acordo com o Expresso, em Portugal, este tem-se especialmente intensificado ao longo dos últimos três anos e com tendência a piorar.
Uma vez que se trata de algo tão recente, os dados sobre este fenómeno são ainda escassos. Contudo, muitos são os relatos que se podem encontrar de gestores que já experienciaram o desaparecimento súbito de candidatos, desde o não aparecerem às entrevistas marcadas ou deixarem de responder a qualquer tipo de contacto a partir do momento em que são aceites para as posições, até ao simplesmente não aparecem no primeiro dia de trabalho.
As razões que conduzem os candidatos a se comportarem desta forma tornam-se difíceis de apurar. No entanto, Pilita Clark, especialista do Financial Times em questões de gestão e vida laboral contemporânea, enumera algumas possíveis causas:
Os candidatos poderão ter tido experiências negativas com recrutadores no passado que os levam a “pagar na mesma moeda”.
Podem, ainda, estar tão habituados à comunicação online que se torna difícil perceber que do outro lado do computador se encontram pessoas reais com expectativas e compromissos do mundo real.
Uma última razão, prende-se com a geração mais nova, que poderá ainda não ter experiência alargada no mercado de trabalho e que, por isso, ainda não compreendem como se devem comportar de forma profissional.
Às possíveis explicações apontadas por Pilita, pode-se, também, acrescentar a dificuldade em recusar uma proposta, muitas vezes sentida pelos candidatos.
Poucas são as formas de resolver esta questão que acaba por surgir em consequência de um mercado de trabalho relativamente saudável e competitivo. Contudo, uma vez que a comunicação é uma estrada de dois sentidos, os recrutadores só têm como opção aumentar o acompanhamento que fazem aos candidatos, mantendo sempre a proximidade, honestidade e transparência durante todo o processo. Adicionalmente, cabe-lhes saber aceitar e deixar passar a situação.
Se o candidato não responde é porque também não seria a pessoa ideal para o cargo, o que também se aplica às empresas e recrutadores que, por seu turno, comportam-se de forma semelhante.
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Fontes:
Clark, P. (2018, julho 1). Ghosting has glided into the workplace. Financial Times.
Davindson, P. (2018, Julho 19). Workers are 'ghosting' interviews, blowing off work in a strong job market. USA Today.
Mateus, C. (2019, abril 7). Candidatos fantasma ‘assombram’ gestores. Expresso.
Nunez, A. (2019, fevereiro 14). Going Ghost: How Recruiters Can Manage Candidate Ghosting. PandoLogic.
Paquette, D. (2018, dezembro 12). Workers are ghosting their employers like bad dates. The Washington Post.